Quando se falava de responsabilidade social no
final dos anos 80, o conceito estava atrelado mais às bandeiras de fachada do
que aos valores internalizados pelas pessoas. Os presidentes dedicavam dois parágrafos
de seus discursos ao tema no final de cada período como diretrizes em cartas de
princípios. Era uma atividade marginal e que não fazia parte concreta dos
objetivos empresariais, sem impacto perceptível para os resultados da
organização.
O cenário mudou muito, mais de duas décadas depois.
Caso você esteja à procura de uma nova colocação, pensa em mudar de emprego, é
candidato a uma vaga trainee ou compete na sua própria empresa por promoções,
uma das questões a que será submetido é: “O que você compreende por
responsabilidade social?”
O termo e seu equivalente mais abrangente – sustentabilidade
– migrou das margens da empresa para seu núcleo, elemento estratégico do
processo de elaboração e condução do plano de negócios.
Com margens de competição cada vez mais estreitas,
criar valor para os clientes e consumidores não é mais somente uma questão de
preço, qualidade, disponibilidade e marca. Responsabilidade social é uma
atitude concreta que sinaliza a capacidade da organização de atuar num modelo
sustentável e integrado com respeito à sociedade. E isto se reflete dentre seus
próprios colaboradores que, atentamente, acompanham e auditam os processos
diariamente em suas tarefas, observando o comportamento ético da empresa.
As organizações que estão atentas para a
importância que o consumidor dá ao papel social representado pela empresa
adequam sua estrutura interna para atender às demandas sociais normalmente
representadas por educação, saúde e meio ambiente, com a mesma qualidade e
eficácia com que desenvolvem e apresentam seus produtos.
Sob o ponto de vista de vendas e marketing, a
empresa que interage com a sociedade e é por ela influenciada conhece melhor as
demandas do que a realidade de mercado e econômica lhe impõe.
Ser competente não basta sem uma visão muito clara
da função e responsabilidade social da empresa. A consciência para uma atuação
sustentável constitui-se num fator que certamente traz vantagens competitivas
em termos de carreira.
Fico aterrorizada quando vejo nos jornais o
destaque de que alguém encontrou uma carteira com dinheiro e a devolveu, como
se isto fosse uma aberração e, mais aterrorizada ainda, quando escuto
comentários como: “nossa, a pessoa que teve a carteira restituída nem ofereceu
recompensa”.
Recebo currículos, destacando a honestidade em
qualidades: “Sou honesta”. Isto é de arrepiar. É uma inversão de valores
absurda. Partimos do princípio de que todos são ladrões e de que honestidade,
dignidade e cidadania são virtudes. Isto para mim é o básico, o mínimo que uma
pessoa deve ter e ser.
Estamos nos acostumando a valorizar atitudes que
deveriam ser comuns às pessoas.
Vemos todos os dias notícias horrorosas nos jornais
e, de repente, nos vemos acreditando que tudo está de pernas para o ar.
Lembrem-se: notícia boa não dá Ibope, razão pela qual não se divulga, mas pode
ter certeza de que ainda há muita gente boa praticando o bem, muito mais do que
o mal que se sabe pela imprensa; e atitudes como devolver uma carteira cheia de
dinheiro ainda são comuns entre gente do bem, não importando sua classe social.
Manter-se ético no país da corrupção não é fácil,
mas vamos fazer parte do movimento do respeito, influenciando as pessoas para
criarmos a rede do bem. Responsabilidade Social tem que ser parte da nossa
vida.
Ser socialmente responsável é muito mais do que
trabalhar em uma empresa ética ou adquirir produtos de empresas que investem no
meio ambiente ou em programas sociais. É, por exemplo, ter atitudes condizentes
com o respeito ao meio em que se vive. É não jogar lixo na rua; não desperdiçar
água, o bem mais precioso que temos; participar ativamente de trabalhos sociais
e não simplesmente dizer que gostaria de fazê-lo, mas não tem tempo; não
discriminar; combater preconceitos; influenciar, pelo próprio exemplo, a
mudança de atitudes das pessoas que o cercam; cobrar das autoridades que
cumpram o prometido; não ser conivente com o desrespeito de nenhuma forma, quer
seja contra animais, pessoas ou meio ambiente.
Todos nós gostamos de trabalhar em empresas bem
conceituadas e sentimo-nos orgulhosos quando alguém elogia a empresa em que
trabalhamos. Então, por que não mudar o nosso país? Afinal ele é muito maior do
que a empresa onde se trabalha.
A sua atitude pode influenciar pessoas e podemos,
sim, mudar o país, para que novamente tenhamos orgulho de ser brasileiros. Não
basta ganhar uma Copa, nossa que bom, ficaremos felizes por um dia, até cair
novamente na rotina. Este título mudará o nosso cotidiano? Não, mas nossas
atitudes diárias podem mudar definitivamente o meio onde convivemos.
Então, mude. A sua mudança fará a diferença para
que tenhamos novamente orgulho de ser Brasileiros, com “B” maiúsculo!
Açucena Calixto Bonanato
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