Desde que me conheço por gente, acredito que todos agem de
boa-fé e que isso nos leva sempre à perfeição, à busca de soluções
verdadeiramente honestas e duradouras.
Sei, por experiência própria, que o simples fato de comentar
sobre o assunto “pessoas com deficiência”, há uns 20 anos, era um despropósito
ou apenas um receber de números que não tinham identidade.
Poucos órgãos públicos, algumas representações religiosas e
particulares, de boa intenção, procuravam se inteirar desse assunto com a
finalidade de benemerência ou filantropia.
Pessoas com deficiência, assunto que saiu da mais intensa
escuridão, para a luz. Luz de lamparina. Escuridão essa que beirava o
obscurantismo e a negligência, afinal deles nada ou muito pouco se sabia.
O ensino era simples e básico e muitos pais e mães, em
atitude paternalista, preferiam tê-los apenas em casa, não os expor. Trabalhos
manuais e atividades bem limitadas eram ofertados aos jovens e adultos, como
forma de trabalho e terapia, porém para poucos.
Mas a evolução começa sempre com um primeiro passo, e
buscar, localizar e dar voz as pessoas com deficiência trouxe uma nova
realidade, escondida embaixo do tapete.
Por força de lei, as empresas precisam contratar pessoas com
deficiência e não dá mais para esperar, a fim de ver se a lei pega ou não pega.
Ela já pegou e dói no bolso.
Se, na visão empresarial, receber as pessoas com deficiência
era apenas uma atividade solidária e caridosa, hoje, as grandes empresas descobriram com enorme surpresa que essas pessoas são
capazes, responsáveis, pensam, logo concluem e são mão de obra qualificada para o mercado de trabalho.
E, não é raro, chegarem até nós alguns empresários que nos pedem
pessoas com deficiência, mas “leve” (quantos quilos?). São aquelas que não
aparecem muito, apenas as deficiências, “coisas mínimas” (ainda me assusto com
esses conceitos).
É claro que as mudanças são significativas e visíveis, mas
ainda estamos à luz de lamparina. Ainda precisamos de ajustes: as pessoas com
deficiência também precisam acreditar mais e se qualificar para o mercado de
trabalho. Afinal, elas estão mudando conceitos e transformando as suas vidas e
de gerações futuras; do Estado, faz-se necessária a implantação de garantias de
qualidade de vida para todos, para as pessoas com deficiência, um atendimento
médico com agilidade e profissionais capacitados, isso sem falar num Brasil mais
adaptado às necessidades dos deficientes; leis mais objetivas e claras para abrigar a todas as pessoas com deficiência, que hoje
estão à margem da sociedade. E os empresários devem oferecer mais vagas para as
pessoas com deficiência, não só para a área de atividade manual, operacional,
mas também cargos de chefia, de supervisão. De liderança, por que não? Qual é o
medo? Existem profissionais formados em universidades, com doutorado e com
mestrado fora do país. Por que não oferecer responsabilidade a quem tem
capacidade e sabe muito bem o que quer dizer superação e determinação?
O nosso país, como o mundo todo, se encontra em fase de
transições econômicas, políticas e sociais. Todos, de forma radical, somos
atingidos pelas mudanças e pelas crises. Este, com certeza, é o momento de uma
transformação moral, ética e social para todos.
A pessoa física deve reconhecer o próximo com qualidade,
capacidade e competência; e a pessoa jurídica, oferecer cursos e treinamentos
para esses profissionais com deficiência e proporcionar a sua inclusão no
mercado de trabalho. Isto é Responsabilidade Social verdadeira. O Estado deve
cumprir o seu papel de defensor dos interesses sociais, não para contentar a
poucos, mas a muitos que hoje perfazem uma fatia considerável da sociedade e
que são economicamente ativos.
Todos somos responsáveis e podemos mudar essa realidade. Não
cabe mais, nos dias atuais, achar que esse problema não é meu. É sim. As
pessoas estão aí de forma visível, e conviver com elas de forma produtiva e
respeitosa depende somente de um gesto.
Lembre-se, para se tornar uma pessoa com deficiência basta um segundo.
Abraços,
Açucena