Até que enfim nossa população resolveu se manifestar
contra todas as improbidades que ocorrem no país. Demorou.
Sou absolutamente a favor das manifestações pacíficas
para demonstrar o quanto nossa população está sendo desprezada pelos
governantes.
Acompanho diariamente pessoas que, por força de sua
condição de deficiência, dependem de um sistema de saúde falido, de transportes
não adaptados, de escolas despreparadas tanto em acessibilidade como em professores
treinados para recebê-los.
Se para a população em geral já é difícil, imagina só
para a população chamada de especial, ou seja, a que requer uma atenção especial.
“Dai a Cesar o que é de Cesar” – sou totalmente favorável
ao pagamento de impostos, de forma que retorne a benefícios para a população.
Não é o que presenciamos no Brasil. Quanto mais se paga de impostos, mais temos
que pagar para termos os “serviços públicos” privados. Lembro-me de quando
estudava, que as escolas públicas eram tão boas, que precisávamos prestar vestibulinho
para entrar. Quem não conseguia acompanhar o ensino público ia para as escolas
particulares, chamadas de “pagou passou”. Bons tempos em que as crianças sabiam
as capitais de todos os estados e distinguiam
uma planície de um planalto.
Observando as fichas de entrevista, percebemos que mal
sabem escrever, apesar de terem curso superior. Quando pedimos para fazer uma
redação, se levarmos a sério, reprovamos todos os candidatos e não é pela nova
ortografia não, é simplesmente porque a redação não tem pé, nem cabeça. Não tem
sequência, nem conteúdo.
Cada vez estamos presenciando um governo tipo “Silvio
Santos” – quem quer dinheiro. É a bolsa-família, bolsa-leite, bolsa-gás, salário-família,
bolsa-droga, bolsa-detenção e trabalhar, quem quer?
Em processos de seleção pelo interior do país, nos
deparamos com candidatos que riem da oferta de emprego para ganharem mil e
duzentos reais, quando, sem sair de casa, recebem muito mais do que isto. E,
claro, não tem nenhuma formação, nem experiência anterior.
Segurança? O que é isto? A população está cada vez mais
apavorada e trancafiada dentro de casa. Direitos humanos, só para bandidos. A
impunidade se estabeleceu de uma tal forma que as pessoas do bem abrem mão de
seu direito de reclamar ou denunciar, com medo de represálias.
As famosas PECs (Proposta de Emenda à Constituição) não
passam de abuso do poder. A população tem que ser consultada em assuntos que
ferem seus direitos. Se existe uma Constituição, que se cumpra. Dezenas de
artigos da nossa Constituição ainda não entraram em vigor porque não foram
regulamentados e são artigos de interesse geral, como revisão dos impostos,
ações de inclusão, de igualdade de direitos.
Pela primeira vez a população reage espontaneamente, sem
vínculo partidário, para demonstrar sua insatisfação latente, que se arrasta há
anos. Esta é uma clara mensagem aos governantes que o Brasil pode mais. Não
existe um país como o nosso, com tantas riquezas naturais, com um povo que
recebe a todos de braços abertos, abençoado por não ter grandes catástrofes
meteorológicas. Em realidade não precisa muito para que o Brasil seja o país
dos sonhos, basta não atrapalhar seu crescimento.
Espero que destas manifestações surja o efeito esperado,
de mudanças radicais na administração dos bens públicos, para que nossa
população tenha melhores oportunidades de uma vida digna e um futuro próspero,
com mais igualdade para todos.
Açucena Calixto Bonanato